Não há imobilidade que persista quando passam as guitarras da juventude sônica. E "Dirty" é o provável melhor primeiro passo no desvendar a consistência dessa gente que, como os Pixies, ajudou a definir boa fatia do que seria o rock nos anos noventa, desagüando influências em bandas tão diversas quanto Nirvana, Smashing Pumpkins e My Bloody Valentine ("Dirty" teve como produtor Butch Vig, upgrade considerável em relação aos álbuns anteriores. Ele é hoje membro da banda pop eletrônica Garbage e leva no currículo também o "Nevermind" de Cobain e companhia e o "Gish" dos Pumpkins).
Não que marque o pico criativo da trajetória do
Sonic Youth, mas, além de ser decerto o disco da banda mais ouvido mundo afora,
sucedeu e sumarizou traços de dois álbuns que justificam, aí sim, todo paga-pau
que possa rodear os nova-iorquinos: "Goo" (1990) e "Daydream
Nation" (1988), remodeladores do conceito de ruído dentro do rock, notáveis
extensões do experimentalismo caótico de Velvet Underground e Stooges e
disquinhos furados na mão de garotos de camisa de flanela - Kurt Cobain
incluso.
É perceber o muro de guitarras furiosas,
distorcidas e intermitentes que atravessa a geração e constatar. Curioso que em
1992, à altura de "Dirty", já era possível pensar na relação da banda
com o grunge como corrente de duas mãos: Mudhoney e Nirvana bebiam de Sonic
Youth, Sonic Youth lançava olhares atentos para Seattle.
Em "Dirty" as letras são puro trauma. São
ódio e amor como mesma moeda que nunca pára de alternar faces. São revolta
crua, verve sem refinamento, são lisergia e o que faria Kerouac se tivesse
guitarra em vez de papel para anotar sonhos. Inconfundíveis as guitarradas
psicóticas de Thurston Moore e Lee Ranaldo, a estaticidade da microfonia
intencionada e a pertubada lascívia de Kim Gordon. É aqui também a primeira vez
realmente significante em que Kim solta o baixo e assume a terceira guitarra,
formato das faixas "Swimsuit Issue", "Wish Fulfillment" e
"On The Strip". Tema recorrente de punhetas de tantos adolescentes
das duas últimas décadas, Kim pontua aqui vocal de frente em nada menos sete
canções de "Dirty", mais em condição de igualdade com o marido Moore
do que em qualquer outro disco da banda.
Dos quatro singles tirados do álbum,
"100%" e "Sugar Kane" falam hoje como clássicos;
"Druken Butterfly" e "Youth Against Ascism" (que tem de
participação de Ian MacKaye, das bandas Minor Threat e Fugazi, numa guitarra
adicional), de riffs cativantes, dada a crescente receptividade das pistas de
dança para o rock, ressurgem nas mãos de DJs. Há quem diga que
"Dirty" é o "Nevermind" que não aconteceu, que a glória dos
pais nunca transcende a dos filhos. Mas revoluções sempre acontecem para os que
querem agarrá-las. Agarre Sonic Youth.
*por Jamille Pinheiro
*por Jamille Pinheiro
((( FICHA TÉCNICA )))
lançamento| July 21, 1992
produção|Sonic Youth e Butch Vig
estúdio| Magic Shop, Manhatthan, NY
duração| 58:45
selo| DGC
prensagem| USA
encarte| Box Set, Deluxe Edition, 4 × Vinyl, Remastered
((( MÚSICAS )))
A1 100%
A2 Swimsuit Issue
A3 Theresa's Sound-World
A4 Drunken Butterfly
A5 Genetic
B1 Shoot
B2 Wish Fulfillment
B3 Sugar Kane
B4 Orange Rolls, Angel's Spit
C1 Youth Against Fascism
Guitar – Ian MacKaye
C2 Nic Fit
C3 On The Strip
C4 Chapel Hill
C5 The Destroyed Room
D1 Stalker
D2 JC
D3 Hendrix Necro
D4 Purr
D5 Crème Brulee
E1 Is It My Body
E2 Personality Crisis
Written-By – David Johansen
E3 The End Of The End Of The Ugly
E4 Tamra
F1 Little Jammy Thing
F2 Lite Damage
F3 Dreamfinger
F4 Barracuda
G1 New White Cross
G2 Guido
G3 Stalker
G4 Moonface
H1 Poet In The Pit
H2 Theoretical Chaos
H3 Youth Against Fascism
H4 Wish Fulfillment
((( SINGLES )))
Sonic Youth - Sugar Kane
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